Ser pai e mãe é o desafio mais exigente e recompensador da vida de uma pessoa. Os maus comportamentos e birras tornam-se particularmente desafiantes especialmente quando consideramos as exigências profissionais e pessoais nos dias de hoje. E quem nunca lidou com uma birra de uma criança? Estes comportamentos frequentemente irritam, frustram e levam qualquer pai e mãe à beira de um ataque de nervos. Mas o que são verdadeiramente as birras?
Uma birra é um episódio extremo de angústia e /ou raiva. É um episódio emocional breve mas muito intenso caracterizado pela sua explosividade, impulsividade e demonstração de emoções descontroladas. São demonstrados por comportamentos de choro, gritos, a criançar atirar-se para o chão, pontapear, bater, atirar ou destruir objetos, entre outros (frequentemente na pior altura possível). Ou seja, são reações completamente desproporcionais às situações e representam uma crise emocional temporária nas crianças pequenas.
As birras surgem com maior prevalência a partir dos 2 anos idade e começam a ter uma diminuição mais notória a partir dos 4 anos. Nestas idades, as birras aparecem, em média, uma vez por dia, e na maioria das vezes apresentam uma duração entre 1 a 5 minutos. São portanto um comportamento extremamente frequente que qualquer progenitor encontra no exercício da parentalidade. Mas porque ocorrem?
À medida que as crianças crescem e se desenvolvem a nível físico, cognitivo e emocional, são levadas a procurar a independência dos adultos. As crianças pequenas começam a testar a nova noção de que são indivíduos separados dos seus pais, que possuem controlo e conseguem influenciar o mundo ao seu redor. Então gostam de experimentar o mundo, testar novas ideias, exercer as suas preferências e tomar as suas próprias decisões. As crianças pequenas também tendem a perceber as situações apenas do seu ponto de vista, e não se conseguem colocar no ponto de vista das outras pessoas. Ou seja, quando uma criança decide que quer usar o seu vestido da Elsa de Frozen num dia normal de escola ela não compreende porque isso não é possível nem as implicações dessa sua decisão.
As crianças não são egoístas ou más! Simplesmente, as estruturas cerebrais que nos permitem compreender o ponto de vista das outras pessoas ainda não estão desenvolvidas. Por isso as crianças centram-se nos seus próprios interesses e negligenciam as regras impostas pelos adultos. Também começa a surgir a tendência para dizer “Não” simplesmente para resistir à autoridade e impor a sua vontade. Mas, apesar de frustrante para os pais, isto é algo muito positivo a nível do desenvolvimento cognitivo das crianças. É importante encararmos estas expressões de vontade das crianças como uma luta normal e saudável pela independência, e não como uma teimosia.
As birras podem ter vários motivos, e um só episódio pode ter mais do que uma explicação. Mas a causa direta resulta geralmente de emoções de frustração, angústia e raiva que são geradas: pela incapacidade da criança exercer independência; na obrigação em realizar algo contra a sua vontade; em resposta a uma necessidade ou desejo não atendido; em dificuldades em expressar determinar necessidade ou desejo; na incapacidade de controlar emoções decorrentes da frustração.
A maioria das birras ocorrem quando a criança deseja algo e os pais pretendem o contrário. Mas também podem ser precipitadas perante uma situação de imposição por parte do adulto (comer, vestir, dormir, interrupção de brincadeira, …); perante mudanças na rotina; como imitação da birra dos irmãos; como reação a críticas à própria criança; pela não satisfação de um pedido; perante situações de “ameaça de abandono” (“pronto então ficas aí, eu vou-me embora”); e finalmente em situações que a criança esteja cansada, com sono e/ou fome que vão atuar como fatores agravantes, uma vez que temos mais dificuldade em exercer autocontrolo quando nos sentimos cansados ou com fome.
Compete-nos a nós, adultos, ajudar as crianças a adquirir auto-controlo emocional. Podemos também contribuir para o seu sentimento de competência e evitar o conflito excessivo. Daí ser fundamental compreendermos como e porquê as birras existem, de forma a lidarmos com elas de forma mais natural e até aprendermos a identificar as situações que irão despoletar uma, de forma a evitar.
É assim fundamental existir coerência e consistência nas regras estabelecidas pelos pais (e outros cuidadores), assim como a sua concordância por parte de ambos os progenitores, de forma a criança sentir-se mais segura, num mundo mais claro.
Conclusão: todas as crianças apresentam problemas de comportamento em algum momento da sua vida, e isto acontece devido ao seu desenvolvimento cognitivo e emocional. Contudo, todas as crianças são únicas, e têm os seus próprios ritmos, mas também os seus gostos e coisas que não gostam. Os pais são os modelos dos seus filhos – vão imitar os seus pais em tudo (“olha para o que eu digo e não para o que eu faço” não funciona!), inclusivamente como lidam com a frustração, zanga, angústia, mas também com a felicidade, como lidam perante dificuldades, como se relacionam com os outros, como lidam com os conflitos e quando demonstram compaixão.
Finalmente, uma criança a fazer birra está frustrada ou angustiada e entrou numa espiral de descontrolo emocional. Precisam de clareza do que é esperado delas, de firmeza, mas também de compreensão e apoio e ajuda a controlar as emoções para se sentirem seguras. As crianças não se estragam com mimos. Mimos nunca são demais! Mas não confundir mimos com a ausência de regras e limites.
E lembre-se, ninguém nasce ensinado! Nem as crianças nascem a saber intuitivamente como o mundo funciona, nem os pais aprendem magicamente a ser pais quando a criança nasce. Tudo é aprendizagem, para ambos.